antigamente é que isto era bom?
Caía a chuva numa noite de sexta-feira, treze.
Superstições à parte, dentro de portas a conversa seguia muito de acordo com o tempo que se ouvia lá fora, a provar que às vezes a vida anda de tal modo desafinada que nos enfeitiça o pensamento com ideias grisalhas: «então, mas antigamente é que isto era bom? É isso?». Talvez não seja bem isso. Talvez cada antigamente devesse ficar escrito em mil e um contos, para nunca se perder até se perceber, ponto por ponto. Como uma base de dados sobre a vida, pronta para consulta em caso de dúvidas existenciais.
A parte boa é que no mundo real há um saber de experiência feito a correr, de boca em boca, como manda a verdadeira tradição. Trata-se da herança de uma vida inteira a aprender, primavera após primavera. Um saber que não ocupa lugar, à solta e à espreita dos que o queiram conhecer e que muito ajuda a entender que o nosso mundo não está nem melhor nem pior. O nosso mundo está diferente de antigamente, não houvesse fome que não desse em fartura. E como andamos fartos: do “frio” e do “correr”, da “má sorte” e do “tanto querer”, do “andar sem poder” e do “tem de ser”. Se ao menos nos lembrássemos que podemos escolher… Escutar os velhos pode ajudar. Como numa brincadeira de crianças em que aprendemos com as suas histórias o que é isto de viver.
«O mundo ideal não existe, só o mundo de cada um, as ideias de cada um. E é isso que vale, mas é preciso haver respeito e compreensão. As pessoas deviam dar mais valor ao que é importante porque no fim de contas é o que fica. O resto é ilusão.» E o que fica? Um abraço apertado, uma mão a aquecer o coração, um beijo sem contar. Um sorriso de «bom dia» e um «olá, estou aqui» num olhar. Um colo para acalmar a dor, uma alegria partilhada, uma brincadeira improvisada. Uma palavra amiga, uma lição para a vida. Não custa nada.
Devia experimentar. Vai ver que vai gostar.
Marta Faria