desacelerar

Costuma fazer desporto?
Calma, esta não é uma reflexão sobre estilos de vida saudáveis. Aparentemente.
Ainda que, se não experimentou, há muito quem mostre que esta pode ser uma boa mudança.

O desporto está repleto de ensinamentos sobre a vida. E tudo começa com uma questão de ritmo. Não acredita? Falemos então de ritmo, até porque os dias que correm convidam a desacelerar… Qualquer bom exercício exige sempre uma preparação. Sim, que o corpo é forte mas precisa de saber ao que vai para se aprontar. E de convocar reforços se for o caso de nunca ter tentado antes. Também o nosso dia-a-dia deve ser preparado adequadamente, de modo que cada ação tenha razão de ser e ajude o espírito a enfrentar “as horas de ponta” sem perder o rumo. Seguir desenfreadamente é meio caminho andado para dar voltas sem chegar a lado algum, numa espiral onde não há noção de tempo ou de espaço.

Voltando ao desporto, seria como correr a maratona sem treinar.
Erro crasso.
Dizem os entendidos.

Com sorte de principiante pode bem ser que chegue com facilidade à meta.
Só não pare logo ali, repentinamente, no final.

O corpo precisa seguir diminuindo o ritmo, lentamente. Desacelerar, para perceber que é tempo de dar tempo ao esforço e tratar de se recompor. Descanso equivale a recuperação e é o ingrediente secreto da resistência, esse grande truque que usam as mentes fortes para gerir a subida às montanhas que se escondem por entre os vales de tranquilidade desenhados no mapa da vida.

Descansar para ser melhor…não soa bem?
Bom descanso, então.

Marta Faria

mudar é preciso

Quando foi a última vez que fez algo pela primeira vez?

Em tempo de tradições a sabedoria popular dá a inspiração para falar de mudança. Mudar é preciso, sempre.

«A vida é feita de constância!», dirão. Nada a opor quanto ao facto de andarmos em busca daquela base de segurança que sabe sempre bem. Ainda assim, para crescer, evoluir, chegar mais longe e mais perto de quem podemos ser, não basta. Mudar é preciso. Quando pensamos em mudança, resistir é um lugar-comum. Somos, de facto, seres de hábitos. Mas alguns de nós, estranhos seres, fazem da mudança o seu hábito constante. E primeiro estranha-se. Depois entranha-se.

De cada vez que experimentamos algo novo, uma sensação de desconforto faz-nos despertar das nossas respostas em modo piloto automático. Só que para lá de um friozinho na barriga e de uma quanta incerteza quanto ao que se possa passar, geralmente o resultado é emocionante. A experiência do experimentar é o que dá vida ao hábito de mudar. E traz mais sabor à vida: alimenta-nos o pensamento, tolda-nos a imaginação, agita-nos o corpo. Na verdade, menos importa aquilo que escolhemos tentar ou sequer se vamos querer repetir. O fundamental é ir, num exercício constante de descobrir e explorar.

Tem uma lista de coisas que gostaria de fazer ao longo da vida? Não a perca de vista, mais tarde. Para já, disponha-se a aceitar o que vier. Experimente o novo a cada dia e faça da mudança um estilo de vida: um caminho novo para casa no regresso do trabalho, uma receita diferente para o jantar, uma visita a um sítio que nunca lhe chamou à atenção, um livro de um tema que não domina, os sons de uma música que não costuma ouvir, conversas com pessoas com quem nunca pensou falar…procure preencher a rotina com uma novidade, aqui e ali.

Não esqueça que a quem muda, Deus ajuda. E verá que quando envelhecer terá muitas e boas histórias para contar!

Marta Faria

era para ser, mas...

Nos últimos dois meses preparámos um encontro dirigido a profissionais que trabalham com pessoas idosas sob o tema "lar doce lar - ser feliz a trabalhar em lar de idosos". Queríamos um dia a ouvir as coisas boas que se fazem na nossa área de trabalho. Porque sobre as teorias e questões técnicas há muita gente a falar. Sobre experiências de sucesso, soluções inovadoras, o dia a dia... nem por isso. Tínhamos a certeza que ia ser um dia inesquecível.

Mas, efetivamente, o número de pessoas que se inscreveram não foram as suficientes para realizar um encontro no formato que pretendíamos. E, como tal, resta-nos informar que o "lar doce lar" foi cancelado. O sabor é amargo, quando sentimos frustração de não conseguirmos concretizar ou atingir algo que desejávamos. O que podemos aprender com o fracasso? São várias as teorias conceptuais sobre a importância de continuar a tentar, que vale sempre a pena, que é a forma como nos levantamos quando caímos que nos distingue, que é determinante etc, etc, blá, blá, blá… Mas, não é com lugares comuns que vamos encontrar consolo.

Fracassar é uma chatice, um desconsolo, e ninguém gosta! São horas de trabalho em vão, expectativas defraudadas, tentar perceber o que falhou, encontrar a explicação… É uma grande chatice! Era agora que supostamente contrariávamos esta ideia pessimista e devassadora com a importância de tentar, de arriscar, de fazer diferente, era não era? Pois, mas não vai ser. O fracasso doí. E assim termina o encontro que nunca aconteceu.

O dia 20 de Maio será para nós mais uma quarta-feira do mês de Maio. Uma outra quarta-feira em que vamos continuar a cuidar das pessoas para quem o Abrigo é uma casa fora de casa. Porque é para isso que cá estamos. Agora... vamos lá trabalhar.

tem 5 minutos?

Talvez sim. Pensando bem, coisa que não nos falta são 5 minutos. Difícil é decidir como usá-los da melhor maneira, sem ficar assim com a ideia de que foi tempo perdido. Se bem que era mesmo isso que lhe queria pedir, 5 minutos para se perder, a pensar sobre as pessoas felizes.

Lembre-se das pessoas felizes que conhece. Em 5 minutos talvez não lhes descubramos todos os truques que guardam debaixo da pele de pessoas comuns. Mas podemos levantar uma pontinha do véu e espreitar para nos inspirar.

Agradecer (v. Reconhecer. Retribuir). As pessoas felizes vivem a agradecer.

Demasiado evidente, poderá pensar. Mas o valor das coisas importantes está na maioria das vezes na sua simplicidade. Agradecer é isso mesmo: uma forma simples de dizer quão importante para a felicidade é reconhecer e retribuir.

Nem sempre o caminho que seguimos é certo, muitas vezes nem sabemos onde vai dar. Outras percebemos que queremos mudar de meta. Ou escolhemos antes um caminho diferente e é tempo de voltar atrás e recomeçar. Às vezes temos dúvidas, medos, ânsias. Em certos dias o entusiasmo é difícil de controlar. E desilusões, quando surgem, custam a passar.

Com as pessoas felizes, também é assim, afinal são pessoas comuns. Mas nunca se esquecem de agradecer. Partem do bom princípio de olhar ao redor, com olhos de ver. E às tantas torna-se natural reconhecer e retribuir, assim como uma forma de estar…e de ser, mais feliz.

Qual a melhor forma de tornar um hábito realmente natural? Praticar. Connosco, em primeiro lugar. Se chegou até aqui quem sabe se não irá experimentar: guardar 5 minutos do seu dia para reconhecer e retribuir algo de bom. Por outras palavras, agradecer. Escreva sobre isso, todos os dias. Acredite que pode ser transformador.

Marta Faria

da liberdade de pensamento

Ser livre? É “poder fazer tudo o que quiser”.

Há, de verdade, um impulso irresistível para associar a liberdade individual às circunstâncias de uma vida: mais ou menos dinheiro, mais ou menos saúde, mais ou menos responsabilidades…mais ou menos uma série de condições que nos garantem a liberdade de podermos fazer tudo o que quisermos. Aparentemente. Algo interessante acontece ao perguntar a quem diz ser livre o que quer então fazer. Não é pouco comum o levantar de sobrancelha como quem fica à procura da resposta…um certo desconforto por não ter na ponta da língua todos os pontos da lista de desejos pessoais ou por sabê-los um a um desencantadamente por concretizar…parece-lhe familiar? Não se acanhe, já todos passamos por isso. E já agora, isso, tem muito pouco que ver com liberdade, é apenas consequência de percebermos que não controlamos todas as coisas ao nosso redor. Mas voltemos à questão principal.

Ser livre é “poder pensar tudo o que quiser”.

Pensamento é liberdade: um constante vou ali e volto já (sem sair daqui, agora, e sempre que me apetecer). À primeira vista, pode parecer uma conquista muito pouco importante. Mas não é. Vamos testar? Imagine um daqueles dias, ou se lhe bastar, um daqueles momentos «quero-ir-para-a-ilha». E imagine que, no meio do caos, surge um pensamento que lhe dá alento e energia para continuar – a razão pela qual é importante o que estou a fazer, as pessoas que vou rever quando chegar ao fim, o que vou sentir depois de perceber que sou capaz de resolver.

Mudou alguma coisa? Provavelmente sim. Transformou a sua atitude num contexto que permaneceu igual. Ficou tudo resolvido? Provavelmente não, mas deu uma ajuda. Quando «quero-ir-para-a-ilha» qualquer ajuda é bem-vinda. Nada é maior do que o nosso pensamento. Nada nos leva mais longe ou mais fundo. Nada nos torna mais seguros do que sabermos o que pensamos. Nada nos dá mais confiança do que pensarmos antes de decidir. Nada nos faz mais únicos do que termos uma ideia própria, com a vantagem de se poder guardar para nós ou partilhar só com quem se quiser.

Marta Faria

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