Envelhecimento ativo e humanitude

 

O Abrigo foi convidado a partilhar a sua experiência como Unidade Humanitude na Escola de Verão “Envelhecimento Ativo e Humanitude”, iniciativa acolhida no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e promovida em articulação com o Instituto Gineste-Marescotti Portugal. Para apresentar a nossa experiência fizemos um bom exercício de melhoria contínua: refletimos sobre a prática e sistematizamos e organizamos o conhecimento.

Começamos por caracterizar o Porto de Abrigo antes de ser Unidade Humanitude e apresentamos os momentos marcantes do nosso percurso, desde a formação teórico-prática ao reconhecimento formal como Unidade Humanitude. Demos a conhecer a metodologia de trabalho que elaboramos e adotamos: redefinimos os procedimentos de trabalho, redesenhamos processos e revimos o nosso sistema de gestão documental. Partilhamos estratégias de resolução de problemas e dificuldades, caracterizamos a organização atual do Porto de Abrigo e, principalmente, partilhamos os pilares que definem a nossa atuação no dia a dia e caracterizam a nossa forma de estar e viver.

Acreditamos ter contribuído, através da apresentação da nossa experiência e exemplo, para a disseminação da diferença de cuidar em Humanitude. Foi um orgulho dar a conhecer a nossa casa e o nosso trabalho. E, foi também um prazer, levar a pronúncia do Norte a passear à capital.

humanitude

em três andamentos

O tempo perguntou ao tempo «quanto tempo o tempo tem?». E o tempo respondeu ao tempo que «o tempo tem três tempos e precisamos saber em qual viver para nos sentirmos bem». Passado. Presente. Futuro. Essa é fácil, toda a gente sabe. Vamos, pois então, à pergunta que não quer calar: qual deles acontece aqui e agora, onde a vida se faz, numa sucessão incessante de instantes que passam num piscar de olhos?

À primeira vista parece uma resposta evidente e não é de facto muito complicado, até porque o nome não engana. Presente - ou aquilo que está a acontecer a cada segundo de consciência, de nós e do mundo que nos rodeia. Acontece que se fosse assim tão simples não tinha a mesma graça. Nem valia a pena o convite para parar e pensar...

A verdade é que viver no presente (com certeza já deve ter ouvido por aí) tem um tanto que se lhe diga e anda muitas vezes disfarçado de viver em modo de voo, quase como se fossemos melhor treinados para acomodar em vez de resolver a angústia do “vai-se andando”, que é como quem diz deixar a vida correr ao sabor do que der e vier e depois logo se vê.

E se, de repente, nos desligassem o piloto automático e ganhássemos plena consciência de cada momento, a todo o momento? Um tanto ou quanto semelhante à experiência em que damos por nós a prestar muita atenção, sem querer, à conversa que corre na fila do supermercado ou na sala de espera para a consulta…falando nisso, tenho esperança de que esta seja uma experiência universal e transmissível, já não tem mal nenhum ouvir e levar no pensamento, basta só saber não falar quando não é o momento.

Talvez descobríssemos que levamos demasiadas vezes a vida como um jogo de pingue-pongue, a saltar por cima do presente, agarrados ao passado e presos ao futuro. No final das contas o resultado é como ouvia numa conversa recente…a vida passa e não aproveitamos nada. Recordar pode ser viver e sonhar pode ser crescer, mas o truque está em ficarmos mais atentos a cada momento presente, aprendendo a deixar ir dores antigas depois da lição aprendida tanto quanto a não deixar de abrir as portas e janelas que vão lá estar ao virar da esquina.

Há, neste nosso mundo real, quem muito bem o saiba fazer. Pessoas comuns, equipadas com sistema GPS, orientadas no destino de Gerir a Própria Sorte. Quer por o seu a funcionar? Olhe mais para dentro enquanto estiver lá fora.

Sinta, pense sobre o que sente e decida que lutas vale mesmo a pena travar.
Tente, vá em frente, mas seja qual for o resultado, aceite que a vida segue sem parar.
E então, continue. Afinal, há sempre vida no presente.

Marta Faria

elogio do não

Pode parecer a escolha de tema errada para esta época. Ainda em modo descontraído, quando os dias esticam as horas, corridos pela onda de férias que nos leva para onde apetece tão pouco falar a sério… Pois é por isso mesmo, porque os argumentos de sempre estão guardados no fundo da gaveta, aquela que agora deixou saltar cá para fora a boa disposição, a tolerância e o espírito zen, que precisamos aproveitar a oportunidade para falar da importância do “não”, assim de mansinho. E dizer que andamos a tratá-lo muito mal.

É compreensível, na lufa-lufa de todos os dias, que passe despercebido. Mas a verdade é que usamos e abusamos do “não”, de tal maneira que uma palavra que deveria estar relacionada com a tomada de decisão às vezes mais parece um exercício de autoritarismo. Que o digam as nossas crianças e, sobretudo, jovens.

Com o bem-estar do tempo de descanso à flor da pele e o regresso à escola e ao trabalho à espreita, pais e mães, vamos aligeirar: “sim” e “não” andam de mão dada. Como duas faces da mesma moeda, um não existe sem o outro, o que quer dizer que ambos devem ser usados, com moderação. A sua missão não é salvar-nos de cometer erros, mas ensinar-nos a errar melhor, que é como quem diz, perceber a que escolhas nos devemos agarrar e o que devemos deixar cair para poder continuar.

Sim, limites são importantes orientadores do percurso de desenvolvimento, para toda a vida. Sem eles, ficamos à deriva. Só que quando são demais não nos deixam navegar, toldam-nos o comportamento para se desligar do pensamento e seguir, de preferência silenciosamente, que é a maneira mais rápida de lá chegar. Chegar onde? Precisamente, essa é a grande questão.

Por outras palavras, se começa pelo “não”, a educação corre sérios riscos de descambar para a terra pantanosa da proibição, que a cada passo é uma lotaria, já que de olhos bem tapados nunca adivinhamos quando nos sai o bilhete-premiado-da-grande-asneira. Claro que nesta terra já saberíamos que a asneira não devia acontecer! (Perdoem a imagem, provavelmente exagerada). Mas acontece! É a vida.

E não sei bem se será pelo fruto proibido ser o mais apetecido, mas desconfio. Já vi muitos e maus comportamentos mascararem a dúvida e a falta de conhecimento dos miúdos sobre qual deveria ser a atitude mais acertada. E mais grave, o medo da repreensão faz tremer qualquer tentativa de pedir ajuda e lá se vai a voz na hora de perguntar.

Pais e mães, vamos aligeirar outra vez: ninguém nasce ensinado. O papel das crianças e dos jovens é manter a curiosidade para aprender. E a maior parte, a sério, sabe cumpri-lo muito bem. Cabe aos crescidos em redor saber alimentar esta sede, com os truques certos.

Tem aí em casa traquinas a quem ler a cartilha no regresso à escola? Por onde vai começar? Se tem um “não” a querer saltar debaixo da língua, experimente reformular. Aqui fica só uma ideia para se inspirar…um «bom abraço» e um «sei que és capaz» depois de explicar como preparar a mochila, com um ensinamento sobre a forma adequada de estar na escola à medida que se guarda cada caderno, em branco, prontinho para encher de aventuras.

Marta Faria

vamos para a ilha?

Somos pessoas de sorte. Com sorte.
Trabalhamos numa casa bonita e acolhedora, que além de cuidar de pessoas de forma exemplar também cuida de quem nela trabalha. E cuidar também é levar a passear. Mimar.

Este verão andámos de moliceiro e conhecemos a ilha dos puxadoiros. Aprendemos sobre a arte dos marenotos, a flor do sal, as ostras, provamos salicórnia, vimos flamingos e pernilongos e hoje sabemos mais sobre as salinas e o sal da vida. Na ilha sentimo-nos pequenos face à beleza dos sítios especiais do nosso país que estão bem perto de nós, pequenos face ao privilégio de conhecer projetos construidos com amor, face ao silêncio dos pássaros e ao respeito do homem pela natureza quando dela depende o resultado do seu trabalho. 

O dia em que fomos à ilha vai ficar na nossa memória e será certamente recordado por todos nós como um bom momento. Vivemos uma experiência nova e diferente de tudo o que nos é familiar. Acreditamos que viver experiências novas e diferentes fortalece laços que perduram no tempo. A visita à ilha dos puxadoiros faz parte da nossa história, da nossa identidade enquanto Abrigo. Dias como estes reforçam o orgulho que sentimos no Abrigo que somos. E, sim, é muito bom saborear o sal da vida!  

Queremos agradecer à Puritana e ao Henrique a partilha do seu conhecimento e experiência, a paixão com que nos apresentaram o seu projeto e o brilhozinho nos olhos quando falam do seu trabalho.

desacelerar

Costuma fazer desporto?
Calma, esta não é uma reflexão sobre estilos de vida saudáveis. Aparentemente.
Ainda que, se não experimentou, há muito quem mostre que esta pode ser uma boa mudança.

O desporto está repleto de ensinamentos sobre a vida. E tudo começa com uma questão de ritmo. Não acredita? Falemos então de ritmo, até porque os dias que correm convidam a desacelerar… Qualquer bom exercício exige sempre uma preparação. Sim, que o corpo é forte mas precisa de saber ao que vai para se aprontar. E de convocar reforços se for o caso de nunca ter tentado antes. Também o nosso dia-a-dia deve ser preparado adequadamente, de modo que cada ação tenha razão de ser e ajude o espírito a enfrentar “as horas de ponta” sem perder o rumo. Seguir desenfreadamente é meio caminho andado para dar voltas sem chegar a lado algum, numa espiral onde não há noção de tempo ou de espaço.

Voltando ao desporto, seria como correr a maratona sem treinar.
Erro crasso.
Dizem os entendidos.

Com sorte de principiante pode bem ser que chegue com facilidade à meta.
Só não pare logo ali, repentinamente, no final.

O corpo precisa seguir diminuindo o ritmo, lentamente. Desacelerar, para perceber que é tempo de dar tempo ao esforço e tratar de se recompor. Descanso equivale a recuperação e é o ingrediente secreto da resistência, esse grande truque que usam as mentes fortes para gerir a subida às montanhas que se escondem por entre os vales de tranquilidade desenhados no mapa da vida.

Descansar para ser melhor…não soa bem?
Bom descanso, então.

Marta Faria

quadras de são joão

 

Chove... não chove? 
Mesas dentro? Mesas fora?
Lá fora! O S. João é ao ar livre! 
Toalhas. Cadeiras. Pratos.

Cozinha. Sobe. Desce.
Lavandaria. Sobe. Desce. 
Isto não é chuva... é orvalhada de S. João! 
Fogareiro. Carvão. Sardinhas. Sal.

Convidados. Abrir a porta. Entrar. Chegar.
Abraços. 
Sardinhas. Broa. Sangria. Sardinhas.
As palavras dos que nos são queridos.

Os nossos risos e os risos dos outros.
O som das conversas.
Afinal estamos bem cá fora. E não está a chover.
Cheirinho a café.

S. João que é S. João tem guitarra e acordeão.
S. João que é S. João tem balão. E quando ele sobe... muita emoção!!!

O nosso S. João é o melhor do mundo.
É o nosso.
São dias como estes que nos fazem grandes,
dias em que criamos memórias de momentos felizes.

Agradecimentos
No nosso S. João, o protagonista não é a sardinha.
O protagonista, sem o qual para nós não havia S. João, é o Carlos: o especialista na arte de assar! Muito obrigada!!!
Aos elementos da Associação Cultural e Desportiva da Lavandeira que nos trouxeram acordeão e música no coração. Muito obrigada!!!
Às famílias que aceitaram o nosso convite e nos presentearam com a sua presença e boa disposição. Muito obrigada!!!
A todos os colaboradores do Porto de Abrigo, da cozinha, da lavandaria e do economato um obrigada muito, muito especial. Ao longo do dia foram incansáveis! Sente-se quando o empenho e a dedicação são genuínos. Sente-se quando se cuida com o coração. Obrigada!!!

mudar é preciso

Quando foi a última vez que fez algo pela primeira vez?

Em tempo de tradições a sabedoria popular dá a inspiração para falar de mudança. Mudar é preciso, sempre.

«A vida é feita de constância!», dirão. Nada a opor quanto ao facto de andarmos em busca daquela base de segurança que sabe sempre bem. Ainda assim, para crescer, evoluir, chegar mais longe e mais perto de quem podemos ser, não basta. Mudar é preciso. Quando pensamos em mudança, resistir é um lugar-comum. Somos, de facto, seres de hábitos. Mas alguns de nós, estranhos seres, fazem da mudança o seu hábito constante. E primeiro estranha-se. Depois entranha-se.

De cada vez que experimentamos algo novo, uma sensação de desconforto faz-nos despertar das nossas respostas em modo piloto automático. Só que para lá de um friozinho na barriga e de uma quanta incerteza quanto ao que se possa passar, geralmente o resultado é emocionante. A experiência do experimentar é o que dá vida ao hábito de mudar. E traz mais sabor à vida: alimenta-nos o pensamento, tolda-nos a imaginação, agita-nos o corpo. Na verdade, menos importa aquilo que escolhemos tentar ou sequer se vamos querer repetir. O fundamental é ir, num exercício constante de descobrir e explorar.

Tem uma lista de coisas que gostaria de fazer ao longo da vida? Não a perca de vista, mais tarde. Para já, disponha-se a aceitar o que vier. Experimente o novo a cada dia e faça da mudança um estilo de vida: um caminho novo para casa no regresso do trabalho, uma receita diferente para o jantar, uma visita a um sítio que nunca lhe chamou à atenção, um livro de um tema que não domina, os sons de uma música que não costuma ouvir, conversas com pessoas com quem nunca pensou falar…procure preencher a rotina com uma novidade, aqui e ali.

Não esqueça que a quem muda, Deus ajuda. E verá que quando envelhecer terá muitas e boas histórias para contar!

Marta Faria

a nossa casa no mapa

 


A nossa casa foi o palco para a realização de um vídeo de apresentação da filosofia Humanitude do Instituto Gineste-Marescotti Portugal. Este vídeo surge no âmbito do Mapa de Inovação e Empreendedorismo Social (MIES), um projeto de investigação cujo objetivo é mapear iniciativas de elevado potencial de empreendedorismo social no Norte, Alentejo e Centro do País utilizando como base na metodologia ES+.


Parabéns ao IGM-Portugal que, entre mais de 4000 iniciativas sinalizadas, foi reconhecido e distinguido como uma das iniciativas com maior potencial de impacto social. Agradecemos ao IGM ter pensado na nossa casa. É com imenso orgulho que ouvimos as nossas pessoas e vemos o nosso Porto de Abrigo... é tão bom!

fomos ao teatro

No nosso Porto de Abrigo, o Preço Certo é um sucesso de audiências. Talvez seja digno de uma análise sociológica mais profunda... um programa cujo formato é extamente o mesmo há anos e anos, telespetadores fidelizados e um apresentador querido e adorado pelos fans. Soubemos que o Fernando Mendes estava no Teatro Sá da Bandeira com a peça Caixa Forte.

Como não podia deixar de ser, o verdadeiro fã é aquele que não perde a oportunidade de, ao vivo e a cores, manifestar o seu apreço. E assim, numa tarde de domingo apanhamos o comboio e fomos ao Porto ver o Fernando Mendes. A verdadeira estrela reconhece a importância dos seus admiradores e com a boa disposição que o caracteriza, veio ao nosso encontro, em plena rua Sá da Bandeira, prestigiar-nos com um abraço, um sorriso e o privilégio de uma foto. Sim! Comprovado! Uma experiência inesquecível!

Aos voluntários e aos familiares dos nossos residentes que nos acompanharam nesta aventura, o nosso sincero reconhecimento por nos ajudarem a criar mais um momento feliz.

se pudesse voltar a um sítio onde foi feliz? voltaria?

  • O Abrigo
  • creche
 

E se um belo dia de sol abrísse a caixa de correio e lá se encontrasse um convite inesperado? Imagine que o convidavam a percorrer os mesmos espaços, estar com as mesmas pessoas e viver momentos felizes idênticos aos que já viveu... Aceitava? Claro que sim!

Foi este o convite que fizemos aos meninos e meninas que já não frequentam a nossa creche: a possibilidade de revisitar cada cantinho, onde aprenderam a gatinhar, onde deram os primeiros passos, comeram a primeira sopa, fizeram verdadeiros amigos... A casa onde também choraram, riram, cairam, aprenderam... cresceram! E, se todos nós gostariamos de voltar ao sitio onde fomos felizes, termos recebido todos os meninos e meninas que aceitaram o nosso convite... Sim... certamente foram felizes aqui!

 

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